Do Brasil aos Estados Unidos em 7 passos.

Se você tem planos de morar nos Estados Unidos, seja só ou com a família, aqui estão sete passos para fazer da forma correta e evitar erros que milhares de brasileiros cometem.

Por Lineu Vitale

Não espere que seja fácil e desconfie daqueles que dizem que essa mudança será tranquila, sem problemas. Por isso, não dinamite a ponte. Caso não se adapte à nova realidade, há sempre a possibilidade de voltar. Para mim e minha família, mesmo sendo uma das melhores decisões que tomei em minha vida, tivemos que transpor muitos obstáculos. Devido à minha atividade como publicitário, tive a oportunidade de acompanhar a trajetória de muitos brasileiros de sucesso e outros que resultaram em desastre, sendo este último grupo o mais comum.     

Hoje, meu trabalho consiste em facilitar essa transição e assessorar empresas e famílias que queiram se estabelecer nos States. A quantidade de brasileiros descontentes que planejam sair do Brasil é impressionante. Daí este alerta: um plano é fundamental. Um pouco de sorte e timing ajuda muito, mas como não temos controle sobre essas variáveis, vamos nos concentrar naquilo que temos controle. O comandante Rolin, o fundador da TAM, quando lhe diziam que era um homem de sorte, ele respondia: “Sim. E quanto mais cedo me levanto, mais sorte tenho.”  

Errar em algumas coisas você irá errar, mas com um plano, irá errar menos. É natural, a gente pensa que conhece o país, mas na prática a coisa é diferente. “Aprender com os próprios erros é inteligente. Aprender com os erros dos outros é sábio”. As coisas podem dar errado por três fatores principais: desconhecimento, orientação errada ou aconselhamento de má fé. Um plano bem-feito é metade do caminho andado e ajuda a minimizar essas três ameaças. Vamos a ele.

1-Faça seu Plano-A, mas tenha pronto também o Plano-B.

É por aqui que se começa. Não quer dizer que tudo o que você irá colocar no papel irá acontecer, mas um roteiro inicial, um plano completo para a mudança, é fundamental, vai ajudá-lo a descobrir muitos caminhos que você desconhece. Esse plano será diferente para cada um e depende de muitas variáveis. Se você pretende abrir uma empresa, começar um novo negócio e mudar definitivamente com a família, é um projeto. Se você é solteiro, artista, esportista ou cientista com comprovada competência, é um outro projeto. Se você tem uma empresa legítima que vai bem no Brasil já há algum tempo, e pode abrir uma filial nos Estados Unidos, essa é uma boa alternativa. Enfim, seu plano irá incluir todas essas variáveis. Portanto, é provável que esta primeira etapa venha a ser a última a ser terminada, depois do levantamento das demais. 

Caso sua mudança não seja o que você espera e seus planos não se realizaram, você deve ter um Plano-B. Já decidiu qual seria aquela situação extrema, qual seria o limite de tolerância antes de decidir abandonar o seu projeto? No nosso caso, o limite que estabelecemos foi: caso em dois anos não conseguirmos nos estabelecer e ter sucesso com algum trabalho intelectual, voltaremos.

Todas essas variáveis devem ser incluídas no seu plano, além das etapas que seguem.

2-Análise de sua condição financeira.

É fundamental ter reservas para pelo menos seis meses de manutenção nos Estados Unidos, até que você defina o que irá fazer e se estabeleça. Prepare-se também para estruturar seus negócios e obrigações a pagar no Brasil, de forma que sigam sem a sua presença. Muitos empresários deixam funcionários cuidando de seus negócios enquanto passam esse tempo preliminar fora, e quando menos esperam, realizam enormes prejuízos. Morar fora pode afetar também seus negócios no Brasil. O ideal é abrir uma conta bancária e transferir alguns recursos para ela, em caso de emergência ou mudanças políticas, para que seu plano não seja afetado. Uma das piores situações no país mais capitalista do mundo é ficar sem recursos. Caso pretenda iniciar uma franquia, o que é altamente recomendável por diversas razões que não cabem neste capítulo, esteja também preparado para poder justificar a origem desses recursos. Um cartão de crédito americano, a juros de 13% ao ano, pode ser um bom salva-vidas.  

3-Análise de sua condição profissional.

À distância, temos uma visão um pouco distorcida da vida nos Estados Unidos. Algumas pessoas imaginam que os negócios aqui são seguros, os riscos pequenos, os profissionais são sérios, competentes e não há golpes. Na América é fácil ganhar dinheiro e ter uma vida tranquila. Não demora muito para o recém-chegado descobrir quanto essa noção está longe da realidade. A competição é brutal. Quase tudo o que você pense em fazer, é possível que já exista. Entretanto, quando se trabalha com seriedade e dedicação, as chances de sucesso são boas e sempre há espaço para mais um.

Para o imigrante, porém, o início é um pouco mais difícil e requer certa adaptação. É fácil tomarmos decisões erradas por puro desconhecimento. É fundamental pesquisar antes de qualquer ação. O generalista tem mais chances de sucesso que o especialista. Dependendo de sua profissão, é possível que não a possa exercer por aqui devido à falta de reconhecimento do diploma. Médicos, advogados, engenheiros, dentistas, entre outros, não podem exercer suas profissões de imediato. Para músicos, empresários, desenhistas gráficos, garçons, profissionais de limpeza e outros profissionais, isso não vem a ser um problema. Trabalhar em profissões que ofereçam algum risco de contusão, tal como na área de mudanças, transporte, carregamento e entregas, é altamente desaconselhável. Tenha sempre um bom seguro-saúde porque as contas hospitalares são brutais.

Você deve fazer uma análise das suas possibilidades de adaptação e se perguntar: estou pronto para trabalhar em quais atividades? Quais são minhas habilidades?

4-Análise de sua condição legal.

Esta é uma fase importante: cuidar da legalidade no país. Embora dezenas de milhares de brasileiros fizeram e ainda fazem, não aconselho permanecer um dia sequer ilegalmente no país, se seus planos forem sérios e de longo prazo. Os Estados Unidos têm dezenas de vistos diferentes e um deles pode servir para sua permanência legal no país. É mais fácil e rápido tratar desses trâmites legais quando estiver por aqui, do que tentar pelo Brasil. Note que é ilegal trabalhar sem um visto adequado de trabalho, mas não é ilegal ser dono de sua própria empresa. Por isso, para muitos imigrantes, sugiro a compra de uma franquia ou tornar-se sócio de algum negócio existente, desde que o proprietário ou proprietários desse negócio sejam sérios. Há uma quantidade enorme de franquias que se pode começar com pouquíssimo capital. Trabalhar online também pode ser uma alternativa. Você deve consultar um bom advogado de imigração que irá analisar suas possibilidades. Aqui, um alerta importante. Muito cuidado na escolha desse profissional. Pesquise antes de contratá-lo, o que nos remete ao passo seguinte.

5-Pesquise e tome muito cuidado com quem você irá trabalhar ou pedir orientação.

É muito importante não cair nas mãos erradas. Você procura informação ou ajuda e todos parecem muito sérios e confiáveis, mas a verdade é que tem muita gente que se aproveita do recém-chegado e são especialistas em golpes desse tipo. Parece óbvio, mas muitas vezes as pessoas agem por intuição. O prejuízo mais tarde pode ser enorme, até mesmo resultando no cancelamento do seu projeto de vida. Há quase sempre uma maneira legal de se resolver as coisas por aqui, sem necessidade de se apelar para “o jeitinho”. As próprias instituições do governo oferecem soluções para se resolver pendências rapidamente. Para o imigrante isso é excelente, já que não é preciso ter contatos influentes para usar esse benefício. Cuidado com os conselhos que recebe. Se alguém promete resolver seu caso dizendo que pode dar um “jeitinho”, caia fora. Informe-se. É fácil levantar informações sobre profissionais no Google ou pedir indicações para amigos.

6-Não espere resultados imediatos.

Esta regra é mais para quem abre um negócio. Vários clientes meus se deram mal por esperar retorno imediato do investimento e, algumas vezes, retorno sem investimento. É um vício brasileiro. A concorrência, além de brutal como disse, é também desleal. Por isso esteja preparado para ter o retorno do seu capital a médio-longo prazo.

É bom manter os vínculos e a legalidade também no Brasil. Continue pagando impostos, entregando suas declarações, renovando carteira de motorista, enfim, como se não houvesse saído. Mais adiante, caso queira entregar sua declaração de saída como residente no exterior, você terá essa alternativa, mas enquanto seu negócio não decolar, é aconselhável manter seu status nos dois países. Caso seja empregado, é melhor negociar férias antecipadas a pedir demissão. Vale a pena insistir e lutar por algum tempo, porque nada vem de imediato, mas se sua vida for pior no exterior do que em seu país, não tem sentido continuar. Um prazo razoável para que as coisas comecem a acontecer é de dois a três anos.

Há exemplos fantásticos de brasileiros que começaram do nada, batalharam e hoje têm uma situação bem confortável. Há outros que não deram certo no início, insistiram, superaram as dificuldades e venceram. Entretanto, muitos não conseguem e voltam ao país de origem. Nada de errado nisso. Como disse, sorte, timing e oportunidades são cíclicas.   

7-Faça o teste-drive.

Vir com visto de turista e permanecer ilegalmente no país não é uma boa ideia. Já se começa errado e não há motivo nenhum para isso. Entretanto, você pode vir com visto de turista ou de negócios (os chamados B1-B2 que todos recebem) e ficar de três a quatro meses fazendo seu levantamento e testando a viabilidade do seu plano, como um tipo de “teste-drive”. Nunca deixe seu visto expirar. O controle de entrada e saída de viajantes para os Estados Unidos é total. Não importa se você entrou por Miami ou Nova York, saiu para o Canadá ou México por dois dias e reentrou no território americano. Tudo fica registrado em um banco de dados central. Um conselho valioso que dou pra todos: “não tente viver aqui da mesma forma como vivia no Brasil”. Não faça as mesmas coisas, não haja da mesma maneira. Tente assimilar a cultura do país. E é para isso que você deve vir, sempre antenado para executar o seu projeto, fazer contatos com profissionais, advogados, consultores, contadores e ver se é isso mesmo o que procura. Nenhum país é perfeito, todos os países têm vantagens e desvantagens. É importante colocar tudo na balança antes de tomar essa decisão, que afetará o futuro de toda a família. A sua experiência no Brasil ajuda, mas não é garantia de sucesso em outro país. Além disso, depende se vem só ou não, se tem filhos ou não, se é jovem ou meia idade, se tem alguma formação profissional que possa ser exercida aqui, curso superior, inglês fluente, enfim, muitas variáveis. Uma tendência natural é comparar estilo de vida e costumes com seu país: “mas, no Brasil era assim”. O importante é ter consciência da realidade. Não espere logo de início ter o mesmo status que tinha em seu país. Com raras exceções, queira ou não, o seu estilo de vida vai ser diferente. Os seus motivos para mudar são legítimos? Tenha certeza de que essa decisão é firme e vá em frente.

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